por Lucas Alves, Estrategista de Conteúdo na Questtonó Manyone
Vai ou não vai, volta ou não volta: com a pandemia, o trabalho remoto passou de tendência para realidade para alguns, e depois se tornou um pesadelo para outros. Tanto agora quanto no futuro do trabalho pós-pandemia, uma das maiores dúvidas que pairam sobre a cabeça de empresários e trabalhadores é: a qual modelo devo aderir, remoto, híbrido ou presencial?
Com a pandemia, o grande número de pessoas que passou a trabalhar de casa, ainda que tenha sido um fenômeno restrito a uma parcela da população, provou que essa era uma alternativa possível para pessoas e negócios.
Mas será que ela é a melhor daqui para a frente?
Apesar de a resposta variar de caso a caso, é preciso considerar uma série de fatores que envolvem a empresa e os aprendizados do trabalho remoto na pandemia na hora de tomar essa decisão.
O trabalho remoto, quase dois anos após o início da pandemia
A verdade é que, para muita gente, o trabalho remoto se mostrou tão positivo que passou a ser percebido como um benefício irrevogável, do qual muitos não topam abdicar.
No Brasil, algumas empresas que exigem a volta ao presencial enfrentam resistência de funcionários, que não topam trocar a flexibilidade do home office por nenhum outro benefício.
Nos Estados Unidos, teve até quem se demitiu em um cenário onde os empregadores não foram flexíveis o suficiente sobre o tema.
As pessoas também reconfiguraram suas próprias vidas de acordo com essa nova lógica. O trabalho remoto fez as pessoas transformarem suas relações com a moradia, a mobilidade e uma série de outras questões que foram adaptadas nesse período – sendo que muitas dessas mudanças também se provaram irreversíveis.
Há ainda a questão do benefício para as próprias empresas com o trabalho remoto. Ele deu a oportunidade de ressignificar o espaço físico dos escritórios e, com isso, muitos negócios acabaram otimizando seus espaços de trabalho.
Para além da diminuição do espaço físico, o que gera economias consideráveis, há a chance de inovar na distribuição deste espaço, com áreas que valorizem a troca de experiências e a convivência social, dentre outras oportunidades.
A crise do modelo e os possíveis formatos de trabalho
Mas como nem tudo que reluz é ouro, é claro que pessoas e negócios também descobriram os pontos negativos que o trabalho remoto acabou trazendo. É preciso dizer que isso é algo normal dentro do cenário de inovação: novas realidades significam novos desafios.
Mas afinal, o que de fato se perdeu com o fim (ou a pausa temporária) do trabalho presencial?
Primeiro, a própria satisfação das pessoas com o home office caiu desde o início da pandemia. Os relatos de sobrecarga de trabalho, distrações e cansaço acenderam um alerta sobre a saúde dos funcionários, levando muitas empresas a questionarem o formato.
Agora poucas coisas foram tão afetadas quanto a cultura organizacional das empresas. Pessoas que entram e saem sem se conhecer, vínculos mais frágeis e a falta de troca nos acordos sociais não escritos podem ter dano maior do que o previsto.
Desde o final do ano passado, muitas empresas já comandam uma volta ordenada ao presencial, algumas até com o objetivo de retomar 100% de presença com a vacinação.
Elas alegam quedas de produtividade, citam as interações físicas como essenciais para manter a cultura da empresa e discutem até problemas no quesito aprendizagem dos funcionários, ponto essencial para garantir evolução profissional em uma empresa.
No mundo, gigantes de tecnologia como Google voltaram atrás no discurso do trabalho em casa em tempo integral e também passaram a exigir mais a presença dos funcionários de volta ao escritório, cada uma do seu jeito.
Agora, se um dos modelos parece desgastado e o outro se esgotou, o que sobra então? A palavra da vez parece ser flexibilidade.
Trabalho híbrido e flexibilização são a solução no pós-pandemia?
Apesar de as definições de flexibilidade mudarem de lugar para lugar, podemos concordar em uma coisa: a pandemia provou que é completamente possível mexer em estruturas pré-estabelecidas dentro das empresas.
Leia também: Como gerenciar o trabalho híbrido em uma empresa global?
Nesse cenário, algo que se tornou comum ver foi a adoção do modelo híbrido, em que os trabalhadores vão vez sim, vez não ao escritório. A melhor proposta dentro desse formato é de que os encontros presenciais devem acontecer somente quando possuem significado.
Aqui vale um exercício: que tal analisar profundamente quais tipos de interação dentro do seu negócio realmente demandam que as pessoas estejam juntas? Quais atividades seguem podendo ser realizadas remotamente sem interferência? Qual é o valor real em ter as pessoas trabalhando fisicamente no mesmo espaço?
No Brasil, a Natura fez uma grande pesquisa interna para entender quais eram as necessidades da empresa e de seus funcionários, para só depois definir qual seria o modelo de trabalho a ser adotado, uma adaptação do formato híbrido.
Ainda, dentro do amplo conceito de flexibilidade, há a proposta do anywhere office, onde o trabalhador escolhe de forma aberta se quer trabalhar em casa, no escritório ou combinar os dois. O Spotify é uma das empresas que adotou o formato e diz que pode fazer ajustes no caminho.
Aqui na Questtonó Manyone, nós definitivamente mexemos na estrutura de trabalho nos últimos anos. Estamos operando sem a obrigação de ir presencialmente ao escritório pelo menos até o final de 2021 (vai quem quer), e, apesar de termos conversas regularmente sobre o tema, ainda não batemos o pé em nenhum dos formatos.
Durante esse tempo, percebemos o que muitas empresas também perceberam: muitas pessoas querem voltar, muitas não, existem atividades que não demandam presença física, e outras onde ela é imprescindível.
Nossa última proposta foi de inovar em algo que é pouco discutido no Brasil: prototipar, também até o final do ano, uma semana de trabalho de 4 dias. Mais um exemplo de flexibilidade que esperamos ser benéfico para o negócio e o bem-estar dos colaboradores.
A verdade é que, independente da escolha que for feita, seja pelo trabalho remoto, presencial ou híbrido, essa é uma construção que vai se dar com o tempo, prototipando, coletando aprendizados, testando, errando e acertando em busca do que é melhor para todos os envolvidos.
O trabalho como conhecemos mudou para sempre, e cabe a nós orientar essa mudança.