VentFlow é um equipamento seguro e acessível para o combate à Covid-19
Com a gravidade do cenário global em meio à pandemia do novo coronavírus, a Questtonó se uniu a um grupo focado no desafio de construir uma solução para a linha de frente no combate à doença: redefinir, de forma segura, escalável e em tempo recorde, o ventilador pulmonar, equipamento essencial no tratamento de pacientes com complicações respiratórias em decorrência da Covid-19.
Estima-se que 30% dos infectados internados por conta da doença precisam de um ventilador pulmonar no tratamento. Mas, em um contexto de explosão de casos em todo o mundo, houve falta de equipamentos suficientes para suprir essa demanda.
Chamado de VentFlow, nosso equipamento foi concebido em 35 dias, a partir do princípio da OMS (Organização Mundial da Saúde) dos “4As”, que preconiza o desenvolvimento de equipamentos médicos disponíveis, acessíveis, apropriados e de baixo custo. Segundo a organização, a partir de dados coletados de 33 hospitais em 10 países em desenvolvimento, foi possível concluir que cerca de 70% dos dispositivos mais complexos não funcionam quando chegam ao destino nestes países. Os principais motivos são problemas como de energia elétrica, falta de insumos para operar, manutenção inadequada e um design que não considera a cadeia de suprimentos do contexto local.
Inspirado nos “4As”, o grupo reúne designers, profissionais de saúde de várias partes do Brasil, engenheiros e especialistas em ventilação mecânica. A partir dessa iniciativa, o coletivo se denominou como 4As4All (os 4 “as” para todos) e pretende, além de atingir o objetivo maior que é disponibilizar o VentFlow na beira do leito dos pacientes no menor tempo possível, também criar futuros produtos e serviços dentro dos mesmos princípios.
“Iniciamos este projeto com a formação de um grupo diverso que, com o conhecimento médico necessário e a expertise em inovação, design e tecnologia, construiu um equipamento que atende às principais necessidades do momento: usabilidade, agilidade na fabricação, preço acessível e principalmente, desempenho clínico”, aponta Levi Girardi, CEO e cofundador da Questtonó.
Para projetar o VentFlow e tangibilizar com urgência um equipamento seguro, adequado e acessível, somamos esforços ao engenheiro Jorge Bonassa, um dos maiores especialistas em ventilação mecânica do Brasil, ao Dr. Luiz Fernando Falcão, pesquisador do Departamento de Medicina da Unifesp na área de ventilação mecânica e fisiologia pulmonar, e tivemos apoio de uma rede de especialistas ligados a instituições como a Sociedade Brasileira de Anestesiologia, Associação Paulista de Medicina, Unifesp, Engenharia Clínica do Hospital São Paulo e Associação de Medicina Intensiva Brasileira.
Em um contexto de isolamento social, o processo de trabalho foi conduzido remotamente na maior parte do tempo, através da nossa abordagem sistêmica de design, capaz de articular soluções para desafios complexos.
Um ventilador pulmonar adequado para a crise de saúde
O contexto da pandemia levantou uma questão na indústria de equipamentos hospitalares: a baixa disponibilidade de ventiladores pulmonares, que em maioria são modelos ultra sofisticados e dependentes de tecnologias importadas. Uma opção inviável em um momento de escassez global.
A partir da necessidade de conceber um equipamento que atendesse a uma demanda urgente de forma simples, priorizamos componentes e materiais já disponíveis na cadeia de produção para tornar a fabricação mais barata e rápida. Unimos fabricantes de diferentes setores, como a Gertec, indústria da área de tecnologia em automação, para ressignificar processos industriais e torná-los mais ágeis.
Porém, somente projetar o ventilador pulmonar não garantiria sua produção. Foi preciso assegurar que ele atendesse adequadamente às necessidades clínicas, seguindo todos os padrões de segurança dos órgãos de saúde responsáveis.
“Criamos um equipamento de uso simples porque este é um fator fundamental, considerando que teremos um contingente de profissionais de saúde não habituados à operação dos ventiladores convencionais”, explica o doutor Luiz Fernando Falcão.
Após a criação de protótipos do equipamento, uma série de testes foram realizados por equipes especializadas para que ele fosse validado, garantindo o funcionamento adequado do Sistema de Ventilação Pulmonar sem riscos ou prejuízo à saúde dos pacientes.
Com isso, chegamos a um ventilador pulmonar homologado pelo Ministério da Saúde e que está em processo de certificação pela Anvisa (Agência Nacional de Saúde). Ele é capaz de ser aplicado em diferentes jornadas de uso, tanto do ponto de vista econômico quanto humano, em um país tão desigual quanto o Brasil.
Acreditamos que a inovação só acontece de fato quando ela sai do papel.
Design como ferramenta para um novo mundo possível
A abordagem sistêmica do design sempre nos levou a questionar e criar hipóteses. Essa lógica permite reinventar sistemas inteiros a partir da construção de novos cenários, protótipos e experiências.
Nossos esforços para redefinir o sistema desse ventilador pulmonar foram orientados pelos seguintes pilares do design sistêmico:
Integração de saberes
A pluralidade é essencial para dar conta da complexidade do projeto. O time formado para esse desafio contempla especialistas em design, saúde, engenharia, direito e supply chain.
Questionar o impossível
Criar um ambiente de confiança entre os integrantes do projeto permite questionar crenças pré-estabelecidas. Essas questões muitas vezes apontam novas formas de solucionar um problema.
Foco no usuário
Estabelecer uma conexão e exercer a empatia com os usuários é essencial para criar uma boa jornada de uso e definir melhorias.
Usabilidade (UX)
Há urgência em disponibilizar um novo sistema de ventilação pulmonar. Pensar na usabilidade como forma de tornar o equipamento seguro e muito mais prático é chave para concluir essa jornada.
Prototipagem
Prototipar soluções de forma rápida nos permite aprender e aprimorar a cada teste. Isso garante que o equipamento possua a precisão e confiabilidade necessária para a implementação.
Metodologia ágil
Projetos com essa urgência pedem uma operação ágil, com diferentes grupos de trabalho se aprofundando em soluções distintas. A metodologia percorre todos os momentos, da concepção à materialização do produto, considerando um agravante, que é a colaboração predominantemente online.
Viabilidade
Mesmo nos caminhos mais ousados, manter-se perto da realidade é importante. Conhecer sistemas industriais, normas e cadeias de suprimento são pontos que garantem a implementação do projeto.
Esse projeto ganhou medalha de prata no Brasil Design Awards, na categoria Design de Impacto Positivo.
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